sexta-feira, 16 de julho de 2010

Mudos no metrô.


No metrô minha voz não sai. Reparei que a de muitas pessoas também não.


O metrô é um ambiente mudo. Do indivíduo em sua ilha. Estamos ali todos juntos e todos sozinhos, mudos. Me descobri muda no metrô e percebi que tenho meus iguais.


A rotina nos transforma em seres ausentes dos espaços coletivos, muitos lêem livros ou ouvem músicas, o que faz o momento da viagem mais interior.


Para quem está acompanhado ou para quem nunca realiza aquele percurso, é diferente, mas os sozinhos que vivem a rotina não têm voz.


Novas formas de comunicação surgem, a movimentação do corpo para delimitar espaço; muito necessário nessa situação; as caretas se alguém estiver trancando a porta, o sorriso de gentileza quando você se levanta para alguém sentar. Olhares se encontram o tempo todo. Todos estão quietos, mas todos se falam. Se diz sim, se diz não, se diz tudo com o olhar, com o corpo. As palavras só são usadas em último caso para os surdos, não os surdos de audição, mas os surdos da sensibilidade. Dificilmente preciso dizer “vou descer, com licença”, geralmente o digo quando o outro está de costas e não pode “ouvir” meu gestual. No geral, não é por falta de palavras, que não se comunica no metrô. Ali impera a lei do silêncio, mas como ficamos parados, frente a frente por um certo tempo, é preciso comunicar, é impossível entrar no vagão e não reparar em pelo menos cinco pessoas, por mais insociável que você seja. É o lugar de comunicação em massa não-verbal mais interessante que conheço. Nos vagões as multidões são silenciosas, não em absoluto, mas comparado aos outros tipos de multidões como em um estádio, um show, uma manifestação ou uma festa.


O único momento de sons é quando as plataformas estão muito cheias e a balburdia se torna evidente, mas não é comunicação de individuo para individuo, é o “eu” que fala para a massa, gritos, brincadeiras, os muleques mais novos se divertem, pois podem berrar, brincar; são como sons da floresta; não necessariamente palavras, mas gritinhos. Essa situação é difícil de ser descrita, mas caso queira experimentar, sugiro estação Barra Funda as 18:30 horas e estação Sé as 18:00.


Para todas as outras situações descritas é só entrar no vagão e inevitavelmente se comunicar, sem palavras.

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