sexta-feira, 16 de julho de 2010

Excentricidade por Fiódor Dostoievski


Comentário resposta para o post “Exêntricidade”

http://bigbagofdreams.blogspot.com/2010/07/excentricidade.html

da minha amiga Gabi.

“Uma coisa é de crer, fica bastante evidente: trata-se de um homem estranho, de um excêntrico até. No entanto, a estranheza e a excentricidade mais prejudicam do que permitem chamar a atenção, sobretudo quando todo mundo procura unir particularidades e encontrar ao menos algum sentido comum na balbúrdia geral. Quanto ao excêntrico, o mais das vezes é uma particularidade, um caso isolado. Não é?

Mas se os senhores não concordarem com essa última tese e responderem: “Não é assim” ou “não é sempre assim”, é possível que eu até crie ânimo em relação à importância de meu herói Aliesksiêi Fiódorovitch. Porque não só o excêntrico “nem sempre” é uma particularidade e um caso isolado, como ao contrário, vez por outra acontece de ser justo ele, talvez, que traz em si a medula do todo, enquanto os demais viventes de sua época – todos, movidos por algum vento estranho, dele estão temporariamente afastados sabe-se lá por que razão.”


Aqui o autor descreve a excentricidade da personagem:


“Na infância e na juventude era pouco expansivo e até de poucas palavras, mas não por desconfiança nem por timidez ou soturna insociabilidade, e sim até bem pelo contrário, por outro motivo qualquer, por alguma preocupação como que interior, especificamente pessoal, que não dizia respeito aos outros, mas era tão importante para ele que o fazia como que esquecer do resto. Mas amava os homens: parecia ter vivido a vida inteira acreditando plenamente neles, e entretanto nunca ninguém o considerava nem simplório, nem ingênuo. Nele havia qualquer coisa que dizia e infundia (aliás, foi assim pelo resto da vida) que ele não queria ser juiz dos homens, que não queria assumir sua condenação, embora tomado amiúde de uma tristeza muito amarga. Nesse sentido, chegou mesmo a tal ponto que ninguém poderia surpreendê-lo nem assustá-lo, e isso acontecera até em sua mais tenra juventude.”


Fiódor Dostoievski .


( Os Irmãos Karamazov)


A descrição de Aliesksiêi Fiódorovitch me faz tomar como minha própria descrição esta. Como que pode um livro escrito em 1880 descrever uma pessoa nascida em 1984 nos mínimos detalhes? Eu sei, é só uma personagem, mas foi uma grata coincidência!

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