quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mudança


    Tive um momento de super sinceridade com um desconhecido, chamou-me de gostosa e fiz um discurso feminista. No papo ele empatizou e humanizou; não verbalizando se concordava ou não, primeiro se fez de louco e depois justificou: “Acontece que sou baiano”. Eu ri, e fiquei explicando que as mulheres não gostam de serem abordadas dessa forma na rua, que se eu fosse a irmã dele, a filha, a mãe, que ele devia pensar nelas antes de mexer com as mulheres. No fim da conversa ele disse que eu era muito comunicativa e doce e no meio do papo também falou que ele era um “tipo de não se jogar fora” fazendo cena. Não sei que resultado tem uma conversa dessas, cada um de nós é uma grande história, não sei, nem nunca vou saber o que se passa na cabeça e na vida dele, com ou sem êxito fui um grãozinho da mudança que quero para o mundo.
    Que mudança? Respeito, só isso. Não vejo problema em ser desejada, imageticamente sexualizada, desde que meu espaço não seja invadido sem consentimento. Quero poder andar de hot pants (a imagem da foto) se o cara se masturbar pensando nessa imagem é de foro íntimo, mas masturbar-se verbalmente e em público, é agressão sim.
   Ouço coisas muito piores que “gostosa”, muito, muito piores, eu até podia contar do cara de ontem que fez gestos e disse absurdos, mas deixa para lá, o que quis contar foi à boa e leve história de hoje. 



segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Despedida


Sempre estou a me despedir de mim própria para acolher novidades.

A despedida se torna dolorosa quando não consigo transforma-la em soma.
E quando somo, não é estado de adeus nem de boas vindas, o que fica é o que sempre fui, mas não cabia.


E para caber tenho que ser grande. 

Fonte das imagens: http://silhouettemasterpiecetheatre.com/

sábado, 6 de agosto de 2011

Miscelânea

Um apanhado de trechos lidos hoje cedo.

" O direito à história faz parte da agenda democrática. Os povos e as pessoas se constroem narrando suas vidas. É através do reconto interminável  que lhe aconteceu no tempo que povos e pessoas ganham existência" Joel Rufino dos Santos

" O que adianta uma boca grande e um coração pequeno? Nunca diga que faz se não o faz."
"Tenha amigos, se não tem, seja. Eles virão"
 Sérgio Vaz

"Um bom falante é aquele que se adapta aos seus ouvintes" José Luiz Fiorin

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Pessoa. 

Ler Alberto Caeiro ou Fernando Pessoa; nesta minha fase que intitulo de limbo medíocre; sobre o não pensar foi um encontro. Alguns trechos.

"O mundo não se fez para pensarmos nele (pensar é estar doente dos olhos) mas para olharmos para ele e estarmos de acordo."

"Eu não tenho filosofia, tenho sentidos."

"Mas eu nem sempre quero ser feliz. É preciso ser de vez em quando infeliz para se poder ser natural."

" O essencial é saber ver, saber ver sem estar a pensar, saber ver quando se vê e nem pensar quando se vê, nem ver quando se pensa"

"Acho tão natural que não se pense. Que me ponho a rir às vezes, sozinho. Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa. Que tem que ver com haver gente que pensa..."

" Procuro despir-me do que aprendi, procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, é raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, mas um animal humano que a natureza produziu."

Alberto Caeiro uma das Pessoas de Fernando.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Paralelo

Texto meu, só não quis assinar pq achei que assasinaria o contexto.

sábado, 18 de junho de 2011

A queda



Plumava pelo ar em alta velocidade, meu barato velocittá. Sobre as rodas deslizava, pensava ser de aço.
Então apareceu à vala pedindo para ser desafiada. Voei alto, me senti planando no ar. Acordei do meu milésimo de segundo inconsciente; o corpo havia desligado a máquina de pensar, sobrou o instinto para me dar força física, com as mãos apoiadas no chão como quem faz flexões, meu nariz a um dedo do solo.

Não voeicai.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Não vibro com clichê, nem com a extrema fantasia, gosto do real com um pouco de poesia.

  Leila, 54 anos foi a um programa de televisão contar sua história de amor, com direito a reencontro 30 anos depois do romance.

  No show televisivo,  Leila sentada no sofá da apresentadora loira, contava sua história, enquanto isso o telão mostrava a viagem até a cidade onde o amor da sua vida vivia, tudo acompanhado de muita música popular romântica.
  Quando a TV decide mostrar uma história real, geralmente é para explorar as mazelas ou fantasiar dando o final desejado pelo mainstream. Porém a história de Leila chamou atenção, não por ser diferente de muitas histórias, mas por sua simplicidade e realidade, simples demais para TV, real demais para os padrões.

  Aos 24 anos conheceu Sergio,  motorista de caminhão, ela casada, mãe de quatro filhos. Sem pudor, Leila contou que adorava ir ao motel com o amante e quando se viam soltavam faísca. O romance durou um ano, na época ele dizia que assumiria seus filhos, mas ela achou melhor continuar com o marido, teve medo de se separar, pensou nos filhos, achou que seria melhor se crescessem com o pai. Desistiu desse amor, mas nunca o esqueceu, disse pensar nele todos os dias e que o amor não havia acabado. Com muita calma, contou que o marido sabia do amante e a perdoou, tudo muito comum, mas pouco contado na ficção popular, cinema, novelas.

  Na TV uma história real, simples, de amor, sexo e traição contada com essa naturalidade, sem o enfeite da ficção e sem repressão. A apresentadora não fez perguntas tendenciosas nem Dona Leila parecia culpada. Chegou a dizer que na época se sentia mal, mas atualmente pensava o seguinte, que sua mãe havia imposto muitos moralismos e de tanto moralismo deixou de viver, que moralismo só atrapalha a vida. Simples, lúcida.
  Enquanto assistia, pensava; isso não deve estar dando a menor audiência, muito comum e ao mesmo tempo um tema pouco explorado dessa maneira: “Olha essa é a vida, pessoas traem, perdoam, o mundo não acaba por isso.” A história foi contada como documentário, muita música, imagem de estrada, da vida de Leila, refinado demais para quem gosta do padrão e popular demais para elite.  Nem um pouco clichê. Não era como a realidade do cinema Europeu, real e refinado, nem popular e tendencioso como programa do Ratinho, Gimenez, Fantástico que ao contar histórias reais sempre frisam o preto e branco, o certo e o errado.

  Vibrei com toda aquela realidade, sem enfeite, sem alienação, sem julgamento.

  O desfecho da história? Tão comum quanto seu desenrolar, ao se encontrar com Sergio, este repetiu cinco vezes durante a conversa que não se lembrava de Leila, que não lembrava nada do passado e nem queria lembrar, quando ela disse que não tinha ido lá com esperanças de romance ele disse “ainda bem!” e com gosto. Ela chorou um pouco, mas aceitou a rejeição.  No palco, a apresentadora loira a confortou e deu um beijo em cada um dos olhos. O programa? Hebe.

  Costumo dizer “amor não acaba” a história da Leila põe um adendo na frase: amor não tem que ser correspondido para nunca acabar, mesmo que seja para um só. 

terça-feira, 19 de abril de 2011

Amizade

O que prova uma amizade? A saudade com ausência de ansiedade.

A firmeza de que esta não se solta é tão certa que nunca se afirma.

Em teoria nada disso se prova.

Só em silêncio e poesia.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Engano


Resolvi ser um pouco da sociedade, essa coisa de autenticidade é o maior dos autoenganos. Aniquiladora de fantasias, fadada de comodismo. Tão esperta por rir da própria mentira, de mãos com a ironia, gargalhei com o sarcasmo.

 Até chorar.

Senti falta da mentira, quis recuperar meus autoenganos. Por que nem todo dia tem cores que só meus olhos podem imaginar. É na mentira que me alegro.

É preciso um pouco de fantasia para sorrir o necessário.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Rocha metamórfica

A epifania:

De repente depois do agito paro. 
Transformo-me em música, sou o som metamórfico para poesia, 
Carrego minhas tintas e tudo tem cor, a voz sai bonita 
Converso simpática, como quem eu mesma nunca me vi. 
E depois mudo para pedra, parada, com musgo, gelada, na corredeira da serra. 
Essa não faz nada, só pode ser pedra, quieta, não dança, não treme nem geme. 
E de ser pedra entendo, do mesmo modo que sei ser gente, por que posso ser todas essas coisas. Até gato, quando brinco com o gato. 
E todas escrevem aqui, como múltiplas de mim. 
Sem razão alguma. Como tinta que se joga no papel e forma que não sabe o que quer ser e vira rosto de menina. 

O diagnóstico: 

Já sei a doença que tenho, eu mesma diagnostiquei, são problemas de vazão, como o sangue que entope a veia; minha criatividade se não é usada, fica presa entupindo meu ser, aí viro pedra, por que não dá para ser melhor que pedra, só pedra serve. 
A pedra observa e só ecoa o outro, pedra não tem ego, só experimenta, só quer ser espelho do outro. Eu deixo, deixo você se exibir, não é por medo nem por a falta da estima, mas por experimento, para te conhecer, tem jeito melhor de te conhecer do que colocar um espelho? Quem paga para ver, não pede o dinheiro de volta. E não reclamo, se for merda o que você tiver, atira, eu assisto! Se for beleza, a gente junta as nossas em retalho. Não tem jeito mais estranho e cristalino de conhecer as pessoas, idiossincrasia, coisa minha. 
Aí me chamam de pedra. E vocês que usam essas caixas na cabeça com dois pequenos buracos que os olhos mal que vêem? Todos iguais, ressentidos, enrustidos, cheios de desconfiança. Mas que desconfiança! Eu confio, confio no seu lado merda, eu desmistifico, eu entendi que você é assim por seus traumas, e vejo como era quando riam de você na escola, não, essa não sou eu, é você, sou eu, em você. Sabe? Mas aí desse mundo todo, você jogou fora sua empatia. Mas eu fiquei com a minha, com vontade de te afagar. Um abraço serve?

domingo, 3 de abril de 2011

Careta

Essa sou eu, devolvendo caretas bem feias para a careta que o mundo me deu

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mude de aporrinhações


Sugiro que você mude. Mude de país, de casa, de emprego, a aparência e a profissão, termine o namoro, troque o guarda-roupa, as ideologias, a religião.
“Mude minha filha e que seja por novas aporrinhações” disse minha sábia mãe hoje de manhã. “A vida sempre pede recomeços e reinvenções.”
Mudo por prazer ou por evolução.
Quando mudo, não só as coisas boas se transformam, as encrencas variam junto, tão novas quanto às alegrias e também devem ser bem-vindas.
Mudo para ter o fácil, mas o difícil caminha junto, quando não rouba todo o espaço.
Vou inovar, a partir de agora não mudo mais de vida. Mudo de aporrinhações.
E de todo esse avesso, não vai ser só o bom que vai virar ruim.
Desejo novos problemas, retiro a expectativa do prazer.
Se o porre era sempre o brinde, agora virá trocado.


Que a mudança me venha inteira, cheia de aporrinhações


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Status é uma prisão da mesma forma que são as regras de moda.

Moda é status, se o solado do seu sapato é vermelho, representa que tem dinheiro para um Laboutin que custa em média US$ 3.000; se for preto pode ser de qualquer outra marca.  Existe beleza, tradição, sonho, fantasia e qualidade atrás da marcas, são os argumentos de grifes e clientes. O que possuem em comum o solado preto da marca MadeinChina e o solado vermelho Laboutin? São sapatos e possuem a mesma função. 

Já andei diversas vezes na Oscar Freire; para quem não é de São Paulo, é uma das ruas mais chiques e grifadas da cidade. Largada: de mochila, cara lavada, cabelo preso e havaianas no pé e  fina: montada na produção, maquiagem e acessórios.

O caminho habitual, no tempo que trabalhei lá era: começo da Oscar Freire quando cruza com a Rebouças, até a Lorena, então eu virava e subia a Av. Paulista até o metrô. (é gosto de andar).

Nos meus dias comuns, vestida displicentemente, os donos da grana; identificáveis por sua vestimenta; eram indiferentes a mim, não me olhavam nos olhos. Sem meus apetrechos da tribo, não existia, era desinteressante. Já bem vestida e aprumada era olhada nos olhos.

Porém os manobristas, seguranças e motoboys dos restaurantes, sempre me viam , independente da produção de moda. Eu não deixava de existir por estar menos ou mais arrumada. A única diferença é que quando estava mais emperequetada eles olhavam sem conversar ou paquerar e quando eu estava displicente me diziam oi, boa noite, etc.

No post: moda de rua, reflexão sobre um comportamento, comparei mulheres que tem muita informação de moda com as que desconhecem qualquer cartilha. Minha conclusão foi que quem lê revistas da área fica presa a certos tipos de roupa por medo de errar, enquanto as desinformadas do assunto ousam ao exibir o corpo, sem vergonha, sem pudor, o que as tornam muito mais livres do que quem possui informação,  geralmente as “bem informadas” são de classes sociais privilegiadas financeiramente, enquanto as “desinformadas” são mais pobres.

No caso do olhar masculino sobre a mulher que usa ou não os adereços de determinado grupo, percebo que os que dão importância aos significados do vestir, novamente perdem, assim como as mulheres informadas sobre moda. Perdem por não enxergarem outros seres humanos, por precisarem de elementos visuais para empatizar. Enquanto os homens de classe social menos favorecida, sempre enxergam a mulher, vestida como uma árvore de natal ou simples com suas havaianas.

Você tem laços?

Você tem laços? 
Família, laço que começa no umbigo.
Que pode ser cortado ou mantido.
Amigos, laços construídos em espelhos que lembram umbigos. 
De apertar e afrouxar.
Bem vindos são os longos silêncios
E invasões de elogios 
Complementos
Meus pedaços feitos de laços. 
Se o nó pensa que é laço, deixa que desfaço.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Reflexão sobre a moda

“Como é importante estar na moda. A primeira vista, parece uma forma de diferenciação pessoal. Mas, de fato, não o é. Aqueles que andam na moda nada mais são do que adestrados no preparo de coquetéis identitários com todos os ingredientes recomendados. Ingredientes recomendados são aqueles reconhecidos pela massa fashion sem muito esforço e, portanto, em sua essência, sem diferenciação. Estar na moda é não causar estranheza ao grupo. É maior garantia de ser aceito pelo gueto. Seria a moda um ritual de aceitação ao bando?”

Por: Pierre Poisson Puant  / Twitter: @PierrePuant

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Mãos


Tenho uma tradição estranha, para medir o quanto conheço alguém penso se lembro ou não de suas mãos, quanto mais detalhes recordo, mais conheço a pessoa. Por que apesar de gostar de mãos, não é uma coisa que reparo tanto, talvez um pouco mais que a maioria, mas é difícil guardar a aparência da mão de um estranho ou de uma amizade de apenas um ano; por mais querida que seja a pessoa.


Mãos mais do que rostos, são minha referência por que rostos são óbvios a gente sempre olha para o rosto, frente a frente em detalhes, agora as mãos são discretas não pedem atenção para si, só se nota a mão de alguém com tempo e intimidade.

Algumas lembro detalhadamente,  dedos,  formato de unha, se é com ou sem cutícula, roída ou não,  a textura, o tamanho da palma, as veias, cicatrizes e até as pintas; a intensidade das lembranças é de acordo com o grau de proximidade.

Mãos também são a lembrança de duas pessoas muito queridas, meu pai e minha mãe, meus dedos e formato de unha são muito parecidos com os de minha mãe e a palma larga me lembra meu pai, penso que quando eles se forem terei sempre esse pedaço para observar, em minhas próprias mãos