Tive um momento de super sinceridade com um desconhecido, chamou-me de gostosa e fiz um discurso feminista. No papo ele empatizou
e humanizou; não verbalizando se concordava ou não, primeiro se fez de
louco e depois justificou: “Acontece que sou baiano”. Eu ri, e fiquei
explicando que as mulheres não gostam de serem abordadas dessa forma na
rua, que se eu fosse a irmã dele, a filha, a mãe, que ele devia pensar
nelas antes de mexer com as mulheres. No fim da conversa ele disse que
eu era muito comunicativa e doce e no meio do papo também falou que ele
era um “tipo de não se jogar fora” fazendo cena. Não sei que resultado
tem uma conversa dessas, cada um de nós é uma grande história, não sei,
nem nunca vou saber o que se passa na cabeça e na vida dele, com ou sem
êxito fui um grãozinho da mudança que quero para o mundo.
Que mudança? Respeito, só isso. Não vejo problema em ser desejada, imageticamente sexualizada, desde que meu espaço não seja invadido sem consentimento. Quero poder andar de hot pants (a imagem da foto) se o cara se masturbar pensando nessa imagem é de foro íntimo, mas masturbar-se verbalmente e em público, é agressão sim.
Ouço coisas muito piores que “gostosa”, muito, muito piores, eu até podia contar do cara de ontem que fez gestos e disse absurdos, mas deixa para lá, o que quis contar foi à boa e leve história de hoje.
Que mudança? Respeito, só isso. Não vejo problema em ser desejada, imageticamente sexualizada, desde que meu espaço não seja invadido sem consentimento. Quero poder andar de hot pants (a imagem da foto) se o cara se masturbar pensando nessa imagem é de foro íntimo, mas masturbar-se verbalmente e em público, é agressão sim.
Ouço coisas muito piores que “gostosa”, muito, muito piores, eu até podia contar do cara de ontem que fez gestos e disse absurdos, mas deixa para lá, o que quis contar foi à boa e leve história de hoje.
Eu hem... conversa mais mole ele se dizer "baiano"... era mais fácil de se afirmar machista, além de grosseiro entre outros epítetos mais pejorativos. Ele próprio é um estereótipo e ajuda a reforçar uma generalização danosa, não somente aos naturais da Bahia em si, mas aos próprios homens. Há homens tímidos e calados, como há homens extrovertidos e canalhas, que muitas vezes vestem a pele de uma falsa "erudição", só para depois extravasar a verdadeira essência. Da mesma forma que há mulheres assim, também. Os homens em si, e digo quase todos, (com raríssimas exceções) ainda não caíram na real da liberdade feminina, assim como há muitas mulheres que caíram na esparrela de que determinadas expressões de liberdade (vide gaiola das popozudas e similares) não é senão apenas uma extensão do machismo. É algo complicado e depende de muita reflexão, algo cada vez mais complicado em tempos "líquidos".
ResponderExcluirbeijos, querida!
Pois é, eu só ri,de nervoso, não disse nada, por nem saber o que dizer, pensei o mesmo. "Que justificativa mais barata é essa?"
ResponderExcluirNa verdade ele foi bem machista, também perguntou se eu era casada, e só por ter começado uma conversa, ele pressupos que eu estava interessada, mesmo dando uma bronca moral no cara... Não quis relatar todo o acontecido, quis dar um ar prosaico, pensando que mentes fechadas a esse assunto podem largar o texto se for em tom de bronca, deixei a bronquinha pro final. Mas o cara foi péssimo e na real, tenho medo de encontra-lo de novo.
Pior são os caras que acham que o negacear da mulher, na verdade está escondendo uma possibilidade nas entrelinhas... mas isso também é culpa do machismo. "Ela quer, só está fazendo docinho". Fico possesso quando vejo algum cara acreditando que só porque uma mulher conversa, troca ideias, faz questionamentos, na verdade quer sexo... ah, vá se tratar... primeiro que é dar muita importância a si próprio, e depois é muita falta de senso de realidade e de mundo... além de subestimar as relações humanas...
ResponderExcluirQuando um homem está em modo "cachorro" (lembrando, claro, que muitos vivem permanentemente assim) ele é essencialmente um pinto sobre pernas. O cérebro reduzido à mera função de localizar fêmeas. Lamento dizer, mas enquanto você acredita que promoveu alguma mudança, ele não entendeu absolutamente nada do que você disse, pois a funcionalidade necessária para tanto não está ali presente. Trata-se de um ser totalmente fisiológico e binário, concentrado em duas possibilidades "consegui" e "não consegui". Se ele consegue se aproximar e interagir com você, ele julga isso um sucesso e sente-se premiado por ter mostrado o pau. Resultado? Ele sai dessa acreditando que vale a pena mostrar o pau, porque o raciocínio dele é assim simplista mesmo. Vai fazer o mesmo com a próxima. Com cabeças binárias não há espaço pra argumentação e sutileza. Tem que responder com sinais binários mesmo, tipo "sim" ou "não". E lamento dizer, mas o único "não" que um macho fisiológico assim entende é um não hostil, que expresse o máximo de desprezo mesmo. Conhecendo a sua boa vontade, é triste pra mim sentir que estou jogando água fria na sua disposição em tentar mudar o indivíduo pela conversa. Ocorre que conversa só funciona quando se fala a mesma língua.
ResponderExcluirAlisson, é bem por aí, tudo é trela, até bronca moral, o Riva esclareceu bem para mim levantando o pensamento binário.
ResponderExcluirÉ, melhor eu voltar ao meu estado anterior não vejo nada, não ouço nada, é que tem cada situação que passo e muitas mulheres passam na rua, SÓ por ser mulher, que não tem nervo que aguente, como não sei ser estúpida usei da didática. Pensamentos binários merecem respostas binárias, preciso me contextualizar nessa posição. Não encerrando o assunto, preciso agradecer a vocês dois, contribuiram imensamente e ainda vou pensar muito e levar isso para rodas de conversas por aí.
Tava pensando, se essa fosse uma ação conjunta talvez funcionasse, se esse cara ouvisse mais 3, 4 mulheres tendo essa reação, se soubessem de amigos que também ouviram essa reação. É mas por outro lado, a partir de um certo momento ter essa reação seria perigoso, já imagino o ódio dos grupos mas c us (escrevi assim para não ser rastreada por eles) e até de alguns homens que nem fazem parte desse grupo mas pensam de modo extremamente machista.
ResponderExcluirImagino que um grande desafio aí é como evitar de, em vista dessa realidade, ficar calada. Eu não sugiro de modo algum ficar calada, pois isso já sabemos no que dá. Por outro lado, há muitas falas possíveis. Sabemos que há falas do corpo, falas de atitude, e mesmo na língua portuguesa há muitos dialetos possíveis. O desafio constant, inclusive em outras questões sociais, é identificar a fala que num dado contexto tem a melhor chance de ser compreendida. Ainda, isso em nada elimina a possibilidade de transpor a questão para outros ambientes onde você possa comunicar suas indignações em sua língua preferida (como você fez aqui), sabendo que outros vão conseguir ler, compreender, debater. Talvez seja caso de ser poliglota mesmo. Um olhar feio na rua, um debate na rede.
ResponderExcluirO Rivaldo sintetizou bem o mecanismo de pensamento desse tipo de cara... Alguns até entendem a linguagem do "sim" e do "não", complicado é que ainda assim, há os que não conseguem digerir, sequer refletir acerca da negativa. Por falta de semancol, por falta de vivência mesmo. Aí são seres completamente doentes. Vide o caso do cara de Natal que quebrou o braço da menina porque ela se recusou a beijá-lo. E, infelizmente, Paola, ao invés de se ligarem e pararem para ver que estão errados, continuam pensando binariamente, como disse Rivaldo... Aí já entramos no terreno não somente do machismo, mas do masculinismo, que louvam a atitude de um imbecil como ele...
ResponderExcluirA única fala que segui até agora foi a apatia, isso quer dizer, ignorava as agressões, mas é exatamente isso, não tem resultado, então deu vontade de tentar alguma coisa diferente, quem sabe nessas de tentar me acho, espero que me ache e não me esfole. Mas uma coisa tenho certeza, talvez não isso o que fiz, mas alguma reação pacífica, claro, conjunta de muitas mulheres, mudaria; é preciso união pela causa. Já fui a passeatas, mas o pensamento binário tava lá nos olhando dentro do bar.
ResponderExcluirpaola, entrei para ler os seus comentários pensando que leria varias opiniões femininas (não feministas) sobre o que ocorreu com vc e me surpreendi com as opiniões masculinas quase que inflamadas contra o moço e deixando à margem uma coisa que vc apontou logo de início que eu achei bem interessante. essa conversa de machismo e feminismo (dos ismos em geral) é algo que já não é novidade para ninguem. todos sabemos de nossa sociedade patriarcal e qual foi o lugar reservado as mulheres nela (jogo que a mulher vem virando, se com maestria ou não... já é outro papo). o importante nem são as falas mas sim de onde elas são pronunciadas. antes de sairmos (independente da forma e o quanto que nos cause) retribuindo com pedras e gritos de cachorro!, talvez fosse bacana procurarmos entendermos que cada idivíduo tem a sua história (como vc pontuou), seu modo de se relacionar com as suas sensações... de acordo com as esperiências de sua existência. opa! nao estou defedendo o moço, que no mínimo foi deselegante, ok? pelo visto ele te faltou com o respeito e vc pontuou o seu desagrado em relação à situação. ok, talvez as coisas devessem parar por aí, sem outros julgamentos. até mesmo porque tem esse papo de uma sociedade patriarcal, bla bla bla bla... se não entendemos de onde ele se expressa dessa forma fica difícil mudar alguma coisa. olha que legal, voce conseguiu estabelecer um diálogo com o moço, nao conseguiu? é um bom começo. e talvez tenha sido mais proveitoso que se houvesse qq outra reação carregada de ódio ou julgamentos prévios. com todo respeito, não concordo qd falam que o cara está em modo cachorro, que ele é só pinto entre as pernas... essas aspas para mim não passam de uma negação daquilo que o indivíduo é... é negar o falo como um algo estruturantes do ser, seja ele homem ou mulher. se o cara ainda não rompeu o complexo do édipo, a questão é dele - é intimo. e no mais... antes do racional... somos eletrecidade, impulsos, reflexos...
ResponderExcluirpenso que se refletimos sobre nossas ações já estamos contribuindo enormemente para a mudança das coisas. :O) abraço, gente.
Obrigada pela contribuição Raskólhnikov, estou sempre disponível para novos pensamentos. Também não gosto de generalizar, apesar de compreender que generalizações são importantes para certas compreensões e rumos que devemos tomar. A partir do momento que subjulgo, discrimino e reduzo o indivíduo, o que vai contra minhas ideologias, mas tenho que ter o cuidado de não projetar a minha "pureza" que não sei se é a palavra correta, mas enfim estou sem uma para descrever minhas intenções ao abordar de forma gentil uma pessoa invasiva. Enfim, tenho que ter a precaução de não cair no conto do espelho e achar que todos estão abertos. Isso que compreendi e aprendi com o que o Rivaldo escreveu sobre pensamento binário. E por isso acredito que generalizações podem ter sua importância em certos momentos,como um meio de preservação, afinal se existe individualidade e esta é muito complexa preciso de algum parâmetro e para não ser vítima do pensamento binário, hehe, tento não usar a generização como meu principal julgamento, mas pretendo tê-la ali na manga. Agradeço mais uma vez pelo comentário.
ResponderExcluirPol, Riva e Alisson, mesmo "atrasado" sinto que tenho que deixar meu (um tanto revoltado) ponto de vista. Talvez seja simplista e bastante reducionista, mas eu acredito que como um "começo de conversa" funcione MUITO melhor que a abordagem gentil da Pol.
ResponderExcluirO cara só se sente à vontade para ser invasivo desse jeito por pensar em impunidade, se a Pol fosse das mais esquentadas e quisesse bater nele, ele não tem o que temer, pois é (em tese) mais forte. Essa lei do mais forte legitima o machismo de uma maneira que está de tal forma arraigada na cabeça (ou nas cabeças) desse tipo de sujeito, que, como o Riva bem disse, fica impossível fazer com que o cara ouça algum argumento.
Minha solução: spray de pimenta.
Se isso acontecer sistematicamente, se cada mulher que se sentir agredida mostrar que não está indefesa, o campo vai ficar aberto para a trégua. A opressão, nesse caso, começou pela diferença de força bruta e só vai acabar junto com essa diferença. Antes do diálogo, infelizmente tem que doer.
Desculpem se pareço radical demais, mas esse é um assunto que realmente mexe comigo.
Deixo com Whitman a possibilidade de comentar.
ResponderExcluirA forma dela surge,
Ela menos protegida do que nunca e, contudo, mais bem protegida do que nunca,
Os obscenos e sujos em meio aos quais ela anda não fazem dela obscena e suja,
Ela conhece os pensamentos dos outros enquanto passa, nada está oculto para ela,
Ela não é a menos atenciosa ou amigável para esse fim,
Ela é a mais amada, não há exceção, ela não tem razões para temer e não teme,
Juramentos, brigas, canções repletas de soluços, expressões obscenas, são inúteis para ela quando passa,
Ela está em silêncio, tem o domínio de si, eles não a ofendem,
Ela os recebe tal qual a lei da Natureza os recebe, ela é forte,
Ela também é uma lei da Natureza _ não há lei mais forte do que ela.
Pol, permita-me opinar por aqui?
ResponderExcluirAcredito, que sua ação foi muito autêntica e isso é algo muito importante.
Você agiu sobre princípios éticos e se teve ou não resultados, ao outro teve um grande resultado a ti, que partilhou dessa experiência conosco e claro seus leitores.
Muito bacana os argumentos que li.
Até aquele radical é importante, apesar de eu discordar, mas poxa precisamos da diversidade para problematizar a questão e mantermos vivo o espírito democrático.
Acontece que ele era baiano. Lá isso deve funcionar, decerto.
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