Texto e conceito: Bruno Pereira, ilustração Paola Perazza. |
quinta-feira, 5 de abril de 2012
quinta-feira, 22 de março de 2012
Olhos no lugar do cérebro.
Fonte da imagem. |
Quase me lasquei por ser só olhos, nunca me lasquei por ser
só ouvidos, voz, tinta, um corpo dançante ou emoção ao escrever, essa entrega
que a arte pede nunca tinha me posto a perigo.
... na verdade já... Mas enfim, esqueço por que não quero aprender.
Havia pássaros descansando no cabo elétrico, não era bem
isso, mas o que meus olhos interpretaram. Dez crianças ao todo, sentadas no meio
fio, cena linda, lá no Brás. Tirei uma foto do celular, então uma mãe
ensandecida começou a me xingar de tudo o que é nome “Sua puta, fica tirando
foto do meu filho, arrombada...” Vou poupar-lhes dos elogios que recebi da
senhora. Uhu, sai de fininho, pediria desculpas, mas devido às circunstâncias (uma
leoa querendo me caçar) me empirulitei. Cheguei à conclusão que fotografia é a
mais perigosa das artes e só agora minha razão reverbera sobre ética.
A foto? Por razões éticas não posso mostrar, mas fica a
história que espero que termine aqui, afinal passo todo dia por aquela rua.
Glup.
domingo, 11 de março de 2012
Vulnerabilidade
E aí que sou uma vulnerável e não é nem o tipo de coisa que
preciso dizer, os olhos dizem muito, sabe, igual esse vídeo da Tracy, ela diz
tanto com os olhos, transparentes, falantes, pensantes, ela olha para o público
parece pensar neles, na apresentação, depois ela olha pra dentro dela, no que
está dizendo, parece refletir e reflete em brilho pra gente, sem máscara. Não me canso de assistir, é apaixonante.
A coisa mais linda que quero ver no outro é isso, esquece
a fala, todo o discurso, os artifícios, esquece a roupa, esquece tudo, fica só a essência,
essa tal de vulnerabilidade.
E aí, relaciono a necessidade de criar um poema, um vídeo,
uma foto, um desenho com esse papo. Criar é uma dúvida que não busca resposta,
vejo o artista como um vulnerável, por necessidade.
Mas e cabe? Não, não cabe. Admirável, em um conceito
generalizado, é ser forte, sem dor, sem fraqueza. Ser vulnerável é se bobo, o
perdedor.
Eu não caibo e nem
quero caber.
sábado, 14 de janeiro de 2012
A moda é reflexo do momento social presente.
Seminua
A tendência de moda “seminua” começou em 2008, 2009 mais ou
menos, a Europa passou e atualmente ainda passa por verões muito mais quentes
que o comum, então marcas tradicionais como a Chanel diminuíram os comprimentos,
focados em lucrar com a nova necessidade de mercado; nós elite brasileira os
copiamos, o que denota um paradoxo, já que nosso país sempre teve temperaturas
muito mais altas que as europeias. Nos estados brasileiros mais quentes é comum
vestir pouca roupa, o que é confortável e condizente ao clima, porém, como
nossa moda é extremamente elitizada e quem é da elite costuma só enxergar seu
microambiente perguntam: “Por que as mulheres estão cada vez mais peladas?” sem
se dar conta que a maioria das mulheres brasileiras antes da Chanel lançar
micro comprimentos já os usava. Em cidades como São Paulo, usar mini shorts não
era tão comum como é agora, mesmo nos verões mais quentes. Somos o estado mais
plagiador de costumes estrangeiros, se lá não era tendência, logo aqui era ”proibido”.
Vestido Bandage |
Volto o foco na elite, o comprimento das roupas não só
diminuiu como também está mais colado a pele, o vestido que mais faz sucesso
nas baladas é o modelo Bandage, criação de Herve Leger's tendência em alta há
alguns anos com milhares de cópias. Como podem ver na foto é praticamente
succionado o reflexo do presente momento de extremo culto ao corpo, moldado por
cirurgias e academias em busca de um corpo que custa fisicamente,
psicologicamente e financeiramente caro. Enquanto Maria Antonieta se
diferenciava da plebe criando vestidos e adornos inacessíveis, a elite atual se
diferencia exibindo corpos esculturais, sendo este um dos motivos do vestido Bandage fazer tanto
sucesso nos red carpets usados por representantes da “nova aristocracia”, as celebridades. E como conseqüência natural do fluxo da moda, o que é sucesso nas
baladas freqüentadas pela burguesia, chega nas classes mais baixas de forma
desatualizada.
Transparência |
Dando continuidade a essa pegada seminua, as rendas e
transparências agora são o novo hit fashion. Blusas de renda usadas com lingerie
amostra, blusa branca com sutiã preto, saias transparentes, etc.
Androginia
Calça saruel |
Em paralelo a volta da androginia, que é marcada por peças masculinas como o sapato oxford e peças soltas que não marcam o corpo como por exemplo a calça saruel. Apesar da moda seminua atual ser permeada por diversas razões já citadas equiparo-a tendência andrógina, mesmo sendo esteticamente opostas. Ambas representam o diálogo da liberdade feminina.
Ombreiras largas, anos 80 |
Visual masculino atual |
A partir do ingresso da mulher no mercado de trabalho
na década de 40, essa passou a se apropriar de elementos do guarda roupa masculino
em busca de igualdade. Por exemplo, o tailleur e a adoção de calças; já
nos anos 80 a mulher conquista melhores cargos e novamente masculiniza seu
guarda roupa, adicionando largas ombreiras. Não vejo a atual androginia como busca de
masculinidade, mas de igualdade, por diversas razões e uma delas é o fato
dessas roupas sempre serem largas, “desacinturadas”.
Tailleur, anos 40 |
Dizer que
a androginia representa a mesma liberdade que o seminudismo, é esteticamente contraditória,
porém ideologicamente igualitária por seu objetivo em comum a liberdade,
enquanto o seminudismo representa a libertação sexual, a androginia representa
a negação de ser apenas um objeto sexual. É interessante
observar que existe um diálogo subjetivo
entre essas duas tendências.
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