quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Em defesa da preguiça


 Idéias, idéias ,idéias passeiam por minha cabeça de uma idéia ramificam vinte outras novas, criam raízes em grandes labirintos. É bom que eu tenha mais e mais, o empecilho é dar conta de todas. As idéias são o matrimônio que a sociedade aceita por serem financeiramente rentáveis.

Em outra margem, reservada, cultuo outra paixão necessária, a preguiça improdutiva. O ócio do corpo e da mente. A vagabundagem do espírito.

Minha paixão social, todos já sabem, a produção: sou a que trabalha, desenha, cria, escreve, corre atrás. Mas a preguiça, a deliciosa preguiça, quando declarada como paixão tem sempre alguém para dizer “Mas por que você não produz?Por que está aí sem fazer nada?”  respondo “ Não, não quero; quero ficar mais um bucadinho assim olhando pro nada, coçando e roçando, amando como Macunaíma” . Ninguém nos estimula para o nada, ninguém entende o amor pela preguiça.

Recentemente li um artigo afirmando que preguiça é doença. De acordo com o texto, doenças como obesidade, doenças do coração e diabetes são causadas pela preguiça. Se o portador da doença fosse menos preguiçoso não morreria ou nem chegaria a sofrer do mal,  é preciso tratamento para isto.

Levem-me ao doutor, pois estou sofrendo de um mal terrível, sou preguiçosa!

Brincadeiras a parte, todo excesso é prejudicial, dizem que até excesso de água.

Por outro lado,  tenho um pouco de medo de gente que não respeita o ócio, medo dessa gente que não se deixa flutuar sabe?  De nada adianta ter mil idéias com a cabeça tão suja que não cabem mais e nem se desenvolvem. Digamos que o ócio é a logística das idéias, natural, sem esforço, as põe para ninar, as coloca em caixinhas que se transformam em soluções. Quando dizem tempo é dinheiro penso “O que adiantam idéias sem soluções? Rapidez sem eficiência?” Por que não aproveitar algo tão útil e natural quanto o ócio e o lazer?

Eu trabalho com imagens por exemplo e em uma semana sozinha, longe das obrigações, vejo melhor as coisas, no sentido literal. Ficam mais claras as cores, as texturas,  o mundo fica mais nítido.

Nosso cérebro é como uma fabriqueta, você tem uma grande idéia e não adianta, tem que parar e a deixar lá dentro, maturando, fermentando como um vinho em seu tonel. E assim ficam robustas, complexas, coloridas e ricas. A partir disso você descobre que sua idéia quadrada pode se transformar em azul ou que sua idéia losango pode se transformar em penugem de ganso.

Esse tonel em que colocamos as idéias é o ócio. Magnífico! Um viva ao ócio!

sábado, 7 de agosto de 2010

Amor genérico



Eu me apaixono, me apaixono por você todos os dias. Me apaixono pelo modo que encara a vida. Pelo jeito que resolve os problemas ou como não se preocupa com eles.
Me apaixono pela sua história ou como a transforma em estória. Me apaixono pelo seu conhecimento ou como se interessa por isso

Eu me apaixono por você, por vocês. O sentimento é um só, vale para todos. Amor pra mim é uma coisa só, sem subdivisão, sem diferença;  pode ser com ou sem sexo, com ou sem nexo; correspondido ou não, eu amo!

Não sei se sou muito fácil, mas me encanto facilmente.

São muitas paixões, paixões diárias. São lembranças. Paixões antigas ou recentes
Me apaixono até por uma pessoa que acabei de conhecer. Envolvo-me , acredito, admiro.

Amo.

A verdade é que não me apaixono tão facilmente, infelizmente isso acontece menos do que eu gostaria. Por que é tão difícil encontrar alguém como você. Mas quando encontro, admiro, fico boba prestando atenção em seus detalhes.

Dá pra encher as duas mãos com minhas paixões. E sempre cabem mais. O tempo não importa, podem durar só um dia, um texto, um filme ou um livro. Posso até nunca conhecer o alvo da minha admiração. Este pode nem saber que existo, como Quentin Tarantino. Ou já ter morrido como Dostoievski.

São casos de amor, paixão pura, admiração sincera. Simples como esse texto.
Intensos. E sou grata por te amar!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Nada


Essa idiossincrasia não é nada que conheço, nada que você conhece. Queria ter visto isso em um filme, lido em um livro.



Gostaria de ter uma palavra para caracterizar, um sentimento para rotular, uma imagem que definisse, alguém que traduzisse.

Existe e não tenho como provar se é real, sentimento ou se é material.
Pode ser tudo, mas nomeio de nada.

A verdade é que sempre existiu, mas de tão complexo e completo sempre foi o nada. 

Esse nada sempre esteve aqui e lá, comigo e com você.
Não é bom nem ruim, não tem haver com virtude.
Tem haver com a gente, é nosso, mas é muito meu. 

Eu sinto nada. Eu sinto o nada. Eu sou o nada. Eu sou nada.

TUDO.